Por que contrapartidas não foram adotadas nas políticas industriais brasileiras entre 2004 e 2014?
Uma análise qualitativa da capacidade do Estado para formulação e implementação
DOI:
https://doi.org/10.21874/rsp.v76ia.10738Keywords:
política industrial, capacidade estatal, ideias, contrapartidasAbstract
O sucesso das políticas industriais está geralmente relacionado com a sua capacidade de exigir e fazer com que o setor privado cumpra contrapartidas para torná-los elegíveis para tais políticas. Em outras palavras, as contrapartidas implementadas nessas políticas são vistas como fundamentais para o seu sucesso. No entanto, quando se trata das políticas industriais implementadas no Brasil entre 2004 e 2014 (PITCE, PDP e PBM), há um amplo consenso de que as contrapartidas não eram uma característica comum delas e estavam presentes apenas em medidas dispersas. O objetivo deste artigo, portanto, é investigar por que as contrapartidas não foram difundidas na PITCE, PDP e PBM, apesar de sua natureza consensual entre profissionais e acadêmicos. Para tanto, combinamos a literatura que analisa a capacidade estatal com estudos que enfocam a articulação de ideias e políticas públicas para investigar o (não)desenvolvimento histórico de contrapartidas nessas políticas brasileiras. Os dados para a presente pesquisa foram recolhidos através de 26 entrevistas semiestruturadas com funcionários públicos envolvidos na formulação e/ou implementação das políticas industriais nacionais analisadas. As nossas conclusões sugerem que tanto a predominância de certas ideias sobre contrapartidas como a insuficiência de capacidades técnicas/administrativas e político-relacionais afetaram a viabilidade de criação de políticas industriais com adoção generalizada de contrapartidas.
Downloads
References
ABDI. (2008). Política de desenvolvimento produtivo: Inovar e investir para sustentar o crescimento. Brasília: ABDI, 2008. Available at: <https://conhecimento.abdi.com.br/conhecimento/Publicaes1/Pol%C3%ADtica%20de%20Desenvolvimento%20Produtivo%20-%20Livreto%20de%20lancamento.pdf?_gl=1*4mjmsj*_ga*NjIwNDMyNTY1LjE3MzkzNzI0MTc.*_ga_BB0HWX4Y1E*MTczOTM3MjQxNy4xLjEuMTczOTM3MjUyMy4wLjAuMA.>. Accessed on: 14 jun. 2019.
AMSDEN, Alice H. (1989). Asia´s next giant: South Korea and late industrialization. New York: Oxford University Press, USA.
ANDREONI, Antonio, & CHANG, Ha-Joon. (2019). The political economy of industrial policy: Structural interdependencies, policy alignment and conflict management. Structural Change and Economic Dynamics, v. 48, p. 136–150.https://doi.org/10.1016/j.strueco.2018.10.007.
BÉLAND, Daniel, & COX, Robert Henry (Eds.). (2010). Ideas and politics in social science research. Oxford: Oxford University Press.
BÉLAND, Daniel. (2009). Ideas, institutions, and policy change. Journal of European Public Policy, 16 (5), p. 701–718. https://doi.org/10.1080/13501760902983382
BRASIL. (2003). Diretrizes de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior. Brasília. Available at: <https://conhecimento.abdi.com.br/conhecimento/Publicaes1/Diretrizes%20de%20Pol%C3%ADtica%20Industrial%20Tecnol%C3%B3gica%20e%20de%20Com%C3%A9rcio%20Exterior%20-%20PITCE.pdf?_gl=1*lj0p9y*_ga*NjIwNDMyNTY1LjE3MzkzNzI0MTc.*_ga_BB0HWX4Y1E*MTczOTM3MjQxNy4xLjEuMTczOTM3MjY1NS4wLjAuMA.>. Accessed on: 13 jun. 2019.
BRASIL. (2011). Plano Brasil Maior - 2011/2014: Texto de Referência. Brasília. Available at: <https://conhecimento.abdi.com.br/conhecimento/Publicaes1/Plano%20Brasil%20Maior_%20Inovar%20para%20competir%20-%20(texto%20de%20refer%C3%AAncia).pdf?_gl=1*1xk3mvk*_ga*NjIwNDMyNTY1LjE3MzkzNzI0MTc.*_ga_BB0HWX4Y1E*MTczOTM3MjQxNy4xLjEuMTczOTM3MjY5MS4wLjAuMA.>. Accessed on: 14 jun. 2019.
CAVALCANTE, Rafael Vidal. (2017). Política industrial no Brasil a partir da perspectiva das capacidades estatais: O Programa Inovar-Auto. 2017. 140 f. Thesis (Master’s in Sciences) – Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, 2017.
CHUDNOVSKY, Mariana, GONZÁLEZ, Andrea, & HALLAK, Juan Carlos, SIDDERS, Mercedes, TOMMASI, Mariano. (2018). Construcción de capacidades estatales: Un análisis de políticas de promoción del diseño en Argentina. Gestión y Política Pública, v. 27, n. 1, p. 79–110.https://doi.org/10.29265/gypp.v27i1.371.
CORBIN, Juliet, & STRAUSS, Anselm. (1990). Grounded Theory Research: Procedures, Canons and Evaluative Criteria. Qualitative Sociology, v. 13, n. 1, p. 3–21. https://doi.org/10.1007/BF00988593.
CRESWELL, John W. (2007). Qualitative inquiry & Research design: Choosing among five approaches. 2nd. ed. Thousand Oaks: Sage Publications.
EVANS, Peter. (1995). Embedded autonomy: States and industrial transformations. Princeton: Princeton University Press.
FISCHER, Frank, & FORESTER, John (org.). (1993). The argumentative turn in policy analysis and planning. London: UCL Press.
FLEURY, Maria Teresa Leme, & FLEURY, Afonso Carlos Correa. (2004). Introdução. In: FLEURY, Maria Teresa Leme, & FLEURY, Afonso Carlos Correa (org.). Política Industrial - Volume 1. São Paulo: Publifolha, p. 7–12.
GOMIDE, Alexandre de Ávila, & PIRES, Roberto Rocha C. (org.). (2014). Capacidades Estatais e Democracia Arranjos Institucionais de Políticas Públicas. Brasília: IPEA.
GOMIDE, Alexandre de Ávila, & PIRES, Roberto Rocha C. (2024). Capacidades estatais em ação: a abordagem dos arranjos de implementação de políticas públicas. In: GOMIDE, Alexandre; MARENCO, André (org.). Capacidades estatais: avanços e tendências. Brasília: Enap, p. 31-42.
GOMIDE, Alexandre de Ávila, PEREIRA, Ana Karine, & MACHADO, Raphael. (2017). Apresentação: O conceito de capacidade estatal e a pesquisa científica. Sociedade e Cultura, v. 20, n. 1, p. 3-12. https://doi.org/10.5216/sec.v20i1.51311.
SOUZA, Celina. (2024). Capacidades estatais: Interface entre disciplinas e mensuração. In: GOMIDE, Alexandre, & MARENCO, André (org.). Capacidades estatais: avanços e tendências. Brasília: Enap, p. 8-19.
GUERRIERO, Ian Ramalho. (2012). Formulação e avaliação de política industrial e o caso da PDP. 2012. 270 p. Dissertation (PhD in Economics) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
JOHNSON, Chalmers. (1982). MITI and the Japanese miracle: The growth of industrial policy, 1925-1975. Stanford: Stanford University Press.
LOUREIRO, Maria Rita, LIMA-SILVA, Fernanda, ARANHA, Adriana Veiga, & CALABREZ, Felipe. (2020). Building policy capacity within contextual and political boundaries: An analysis of policies in fiscal and social areas in Brazil (1988/2016). Revista do Serviço Público, 71, p. 7-37. https://doi.org/10.21874/rsp.v71ib.4056
MACHADO, João Guilherme Rocha. (2022). The recent industrial policies in Brazil and their conditionalities: A public policy perspective. 2022. 333 p. Dissertation (PhD in Public Administration and Government) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas.
MAZZUCATO, Mariana, & RODRIK, Dani. (2023). Industrial policy with conditionalities: A taxonomy and sample cases. UCL Institute for Innovation and Public Purpose, Working Paper Series (IIPP WP 2003-07). Available at: <https://drodrik.scholar.harvard.edu/sites/scholar.harvard.edu/files/dani-rodrik/files/conditionality_mazzucato_rodrik_0927202.pdf>. Accessed on: 09 dec. 2024.
MILES, Matthew B., HUBERMAN, Michael A., & SALDAÑA, Johnny. (2014). Qualitative data analysis: A methods sourcebook. 3. ed. Thousand Oaks: Sage Publications.
OLIVEIRA, Maria Clara, & BICHIR, Renata Mirandola. (2021). Transferência monetária no Brasil e no Chile: Comparando ideias e o papel de instrument constituencies. Lua Nova, p. 211 – 246. https://doi.org/10.1590/0102-211246/113.
ORLANDI, Eni Puccinelli. (2007). As formas do silêncio: No movimento dos sentidos. 6th. ed. Campinas: Editora da Unicamp.
SCHAPIRO, Mario G. (2013). Ativismo estatal e industrialismo defensivo: instrumentos e capacidade na política industrial brasileira. Texto para Discussão, n. 1856, p. 1–56.
SCHMIDT, Vivien A. (2010). Reconciling ideas and institutions through discursive institutionalism. In: BÉLAND, Daniel, & COX, Robert Henry (Eds.). Ideas and politics in social science research. Oxford: Oxford University Press, p. 47-64.
SIKKINK, Kathryn. (1991). Ideas and institutions: Developmentalism in Brazil and Argentina. Ithaca: Cornell University Press.
SKOCPOL, Theda. (1985). Bringing the state back in: Strategies of analysis in current research. In: EVANS, Peter B., RUESCHMEYER, Dietrich, & SKOCPOL, Theda (org.). Bringing the state back in. Cambridge: Cambridge University Press, p. 3–38.
SOUZA, Celina. (2024). Capacidades estatais: interface entre disciplinas e mensuração. In: GOMIDE, Alexandre, & MARENCO, André (org.). Capacidades estatais: avanços e tendências. Brasília: Enap, p. 8-19.
STEIN, Guilherme De Queiroz, & HERRLEIN, Ronaldo. (2016). Política industrial no Brasil: Uma análise das estratégias na experiência recente (2003-2014). Planejamento e Políticas Públicas, n. 47, p. 251–287. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7375
WADE, Robert. (1990). Governing the Market: Economic Theory and the Role of Government in East Asian Industrialization. New Jersey: Princeton University Press.
WU, Xun, RAMESH, M., & HOWLETT, Michael. (2015). Policy capacity: A conceptual framework for understanding policy competences and capabilities. Policy and Society, v. 34, p. 165-171. https://doi.org/10.1016/j.polsoc.2015.09.001.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Copyright (c) 2025 Revista do Serviço Público

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
- A RSP adota a licença Creative Commons (CC) do tipo Atribuição – Uso Não-Comercial (BY-NC).
- A licença permite que outros remixem, adaptem e criem obra licenciada, sendo proibido o uso com fins comerciais.
- As novas obras devem fazer referência ao autor nos créditos e não podem ser usadas com fins comerciais, porém não precisam ser licenciadas sob os mesmos termos dessa licença.
- Ao publicar o artigo na RSP, o autor cede e transfere para a ENAP os direitos autorais patrimoniais referentes ao artigo.
- O artigo publicado na RSP não poderá ser divulgado em outro meio sem a devida referência à publicação de origem.
- O autor que tiver o artigo publicado na RSP deverá assinar o Termo de Concessão de Direitos Autorais (em momento oportuno a editoria da Revista entrará em contato com o autor para assinatura do Termo).